
O Museu Vivo Caiçara da Praia Grande da Cajaíba é uma ferramenta colaborativa que revisita e amplia a memória coletiva viva e fabula um porvir a partir dos conhecimentos territorializados vividos há muitas gerações no território da Praia Grande da Cajaíba. O Museu integra um projeto maior desenvolvido em colaboração com a Área de Proteção Ambiental (APA) Cairuçu e a Unidade de Conservação Federal vinculada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ao Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA). Este projeto é conduzido em estreita articulação com o Conselho Gestor da APA Cairuçu (CONAPA Cairuçu) e inclui uma série de ações, como o fortalecimento do Turismo de Base Comunitária (TBC), a elaboração de Planos de Desenvolvimento Comunitário (PDCs) e o desenvolvimento do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) para a Terra Indígena Itaxi Mirim.
Os recursos financeiros para a realização do Museu Vivo Caiçara da Praia Grande da Cajaíba foram viabilizados através do Projeto Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação Federais Costeiras e Estuarinas dos estados do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), uma das medidas compensatórias do TAC FRADE, conduzido pelo Ministério Público Federal - MPF/RJ, de responsabilidade da empresa PRIO e administrado pelo FUNBIO.
O Museu abriga produções científicas acadêmicas, audiovisuais, artísticas e jurídicas com uma curadoria crítica dos jovens e dos Mestres, objetivando o fortalecimento e a salvaguarda do patrimônio natural e cultural, tanto material quanto imaterial, da comunidade. O Museu também objetiva: capacitar os jovens na linguagem museal e nas mídias digitais; socializar ferramentas para a construção de arquivos e projetos museais comunitários; organizar exposições fotográficas virtuais; debruçar-se sobre todo material já produzido sobre eles, tais como dissertações, artigos, documentários, relatórios, mapas, audiovisuais e apresentar os documentos jurídicos que asseguram os direitos das comunidades tradicionais.
Todos os processos educativos envolvidos na construção do Museu Vivo Caiçara têm inspiração na educação popular, na educação ambiental crítica de base comunitária, na cartografia social e na museologia social*. O fio que enlaça as narrativas presentes no Museu nasceu a partir de oficinas com jovens e crianças da comunidade, em diálogo com os Mestres Altamiro, Dona Jandira e Dona Dica, reconhecidos em seus saberes e fazeres.
As fotos do processo de elaboração do Museu traduzem parcialmente as oficinas realizadas nas quais os jovens elaboraram as legendas de fotos de moradores e ex-moradores da Praia Grande com a ajuda dos avós, das mães e dos pais. O Museu tira da dormência a memória de quando muitas famílias moravam no território. A memória é um direito. De acordo com Krenak (2019): "A gente resiste de um lugar fundado na nossa memória. Esse é o lugar de potência de onde pensamos nosso mundo e esses mundos todos que circundam a gente.".
As fotos usadas como tela de fundo no Museu, em sua extensão virtual, foram realizadas pelos jovens e crianças após uma oficina de fotografia. Produzimos, ainda, pequenos vídeos, oficinas de designer gráfico popular, oficinas de museologia social, vivências e oficinas para criação da identidade visual, oficinas de criação do ambiente virtual do Museu, oficinas de Instagram, oficinas de Memória, Narrativa e Comunicação Popular. Além de conhecerem as pesquisas já produzidas sobre sua comunidade e seu território, conheceram os dispositivos legais que os protegem. Importa muito que as narrativas da comunidade sejam, também, produzidas e registradas pelos jovens. Nada mais sobre eles, sem eles.
* A museologia social ancora-se no desejo de prestar serviços práticos à vida e, por isso, está interessada em inventar, imaginar, ver, rever e transver os museus.” (CHAGAS, M. 2019).